segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

24 - O GUIMARÃES FOOTBALLERS - SIT VIS VOBISCUM

É certo e bem sabido que a concorrência é saudável. E que os monopólios são bem piores que os duopólios. É certo e sabido também que cidade que se preze e à grandeza aspira tem, pelo menos, uma grande e saudável intra-rivalidade: academia contra comércio (a mítica town vs gown de Cambridge), padralhada versus pecadores (os míticos ppp's de Braga), interistas versus milanistas (o mítico derby della madoninna), riveristas versus bocas (o mítico superclássico de Buenos Aires), bairro sul versus bairro norte (nas danças do S. Pedrinho da Póvoa), gunas ribeireiros versus betos fozeiros (no Porto) e por aí fora.

Chegados a Guimarães, ofegantes e a transpirar grandeza e megalomania, fácil é verificar que estamos unidos em grande parte das coisas. Ora, este unanimismo nem sempre é positivo. Assim sendo, a pergunta impõe-se: o que podemos dividir para reinar? E a resposta surge óbvia, como a estátua de Afonso Henriques ao subir o Carmo: o futebol. O futebol?, perguntará o leitor ávido de esclarecimento. Sim, responderei com a calma que me carateriza nestes momentos difíceis: porque o futebol, citando um antigo treinador do Vitória, é a coisa mais importante das coisas menos importantes das nossas vidas. E nós, evidentemente, não queremos cisões em coisas com importância, como por exemplo acabar com as Guaterianas ou invadir o Concelho de Fafe. A cidade precisa, sim, de um clube rival para o Vitória. E o próprio Vitória, até mais que a cidade, precisa de um clube rival que o engrandeça. Um pouco tese-antítese-síntese, para me armar em Hegeliano de bancada.

E que clube seria esse?, perguntará o leitor já com um certo nervoso miudinho. Não poderá ser um clube qualquer, uma criação ex novo. Terá que ter um passado em branco, capaz de receber a inscrição de uma história de glória adiada e de um sem número de tradições capazes de granjear o público mais velho que em Guimarães não apoie o Vitória - raridade - e o público mais novo que hoje - raridade - ainda não apoia o Vitória. Para tal, nada melhor que pegar no obscuro Guimarães Footballers, fundado nos idos de 1931 no Liceu Nacional de Guimarães especificamente para participar no interturmas desse ano e que, vencido este, disputou um jogo com a turma do antigo quinto ano de Mecanotecnia da Escola Industrial tendo perdido por 6-1. O GMRF começaria logo a distinguir-se por ser o único clube que tem Guimarães na denominação, o que lhe daria um considerável impulso de implementação. Zás.

Nesta altura, estará o leitor mais fervoroso a afiar uma faca-Rambo comprada na Marchaves e a dirigir-se para a minha residência, para me explicar um sem número de coisas. Corro o risco de pé, é certo, ciente que esta seria, sem dúvida, uma grande solução para a cidade: as discussões seriam ainda mais acaloradas, as famílias dividir-se-iam tipo do género Capuletos e Montéquios, a rivalidade com o Braga seria ignorada, com o putativo isolamento e eventual extinção, por secagem, do Sporting dos Arcebispos e, no meio deste delírio, o Vitória e a cidade de Guimarães emergeriam mais citius, mais altius e mais fortius. Abaixo se apresenta o emblema do GMRF, redesenhado a partir do original por Carlos Maria Brandão. As cores são o verde e o branco não por serem assim no emblema original ou por se pretender uma ligação às cores oficiais da cidade, mas porque o arquitecto só tinha canetas dessa cor e a folha era branca. Allez GMRF allez (nunca percebi o porquê do francês nos cânticos da bola, mas isso é outra história).


Emblema do Guimarães Footballers - 1931 - Sit Vis Vobiscum.
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